quarta-feira, 30 de março de 2011

Comunidade

A partir de certa altura já nos morreram tantas pessoas que começamos a ter de parar para nos lembrarmos quem são os que estão vivos e quem são os que já morreram.

Pois passamos mais tempo com alguns que não estão vivos.

E a presença deles conosco no escuro é mais natural.

E a sua voz mais verdadeira.

Como se houvesse uma coisa que não vemos mas que sentimos.

Uma coisa que não faz sentido mas que está certa.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Manifesto

Toda a gente é insubstituível.

sábado, 12 de março de 2011

Portugal pátria do futuro

Falando de línguas que nasceram em Portugal.

Há mais portugueses a falar crioulo do que mirandês.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Resistência

Não comer nada que não desse de comer a um filho meu.

terça-feira, 1 de março de 2011

Não há desculpas

Foi num dia de inverno que parecia de verão, pois tínhamos feito imensas coisas e agora estávamos a voltar para casa. Eu olhava para a auto-estrada e o pôr do sol parecia agora, porque os dias eram curtos e as lâmpadas da auto-estrada e a conversa animada tínham-nos distraído de que já era bem de noite. Ainda nem tínhamos jantado. Era aquela sensação conhecida daqueles que já vieram do Alentejo à noite para Lisboa. Tínhamos acordado de madrugada, já tínhamos estado em três cidades, feito amigos novos, rido, gritado, corrido, lutado pela transformação democrática de Portugal, entre outras coisas.

Foi quando, ao volante, aquele homem calmo, sereno, sorridente, moreno e discreto, que organiza missões humanitárias em centenas de países, me disse que somos nós que escolhemos a família em que nascemos.

Dentro de mim o carro travou dos cento e vinte quilómetros por hora para os menos cento e vinte quilómetros por hora, demos três cambalhotas no ar sobre a auto-estrada e aterrámos num mundo novo, embora, cá fora, tudo continuasse igual, talvez um pouco mais escuro mas mais brilhante (como as paredes dos templos japoneses no escuro). O silêncio no carro era apenas cortado pelo sorriso do condutor.

Ainda hoje, agora, aqui, vivo aquele instante e a cada dia que passa sei menos como lhe agradecer.