quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Preciso ser pai

A noite passada sonhei que me nascia outro irmão.

Lembro-me que sonhei que subia feliz o elevador do prédio de apartamentos onde vive a minha família sabendo que o iria conhecer, e pensei, rindo, como era incrível não ter reparado que a minha mãe tinha estado grávida.

Quando conheci o meu segundo irmão, peguei nele e disse aos meus pais que tomava conta dele essa noite, e fui dormir para o sofá da sala. Ele não queria dormir, queria brincar, e gatinhava precocemente no chão da sala. Mesmo com ele a querer brincar, consegui adormecer, no sonho, feliz, vigiando-o abrindo um olho de dez em dez minutos. Lembro-me que pensei que quando eu tiver quarenta e cinco anos ele terá vinte. Que ia ser tão bom sermos três irmãos daqui para a frente o resto da vida.

Depois acordei e ele não tinha nascido. E nunca nascerá. Foi como se tivesse morrido.

Consola-me apenas a ideia que quando eu tiver quarenta e cinco anos este sonho terá na mesma vinte anos.

sábado, 24 de setembro de 2011

Mulher da minha vida

Agora que sei como as pessoas se comportam perante a morte, ao tentar perceber quem será a mulher da minha vida, não consigo deixar de pensar que estou a escolher a pessoa que vai deitar para o lixo as minhas coisas quando eu morrer.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Hoje vi a mais bela das coisas

Num restaurante, uma mulher tão bela de felicidade como eu nunca vi, de vestido fresco de verão, dando de comer à boca do seu bebé de um ano.

Porque foi com ela que fiquei a saber o que é uma mulher maternal. Enquanto o bebé acabava de engolir, ela olha para o marido, pega com a outra mão no copo dele e dá-lhe de beber à boca, enquanto ele, babado, olha para o filho dos dois.

Nas outras mesas, cada um comia do seu prato. Tive então a nítida sensação que havia três tendências sexuais na sala. Mas não havia nem heteros nem homos. Havia as pessoas sem filhos, havia os homens com filhos e havia as mulheres com filhos. Como se uma pessoa só depois de ser pai passasse a ser homem, e só depois de ser mãe passasse a ser mulher.

Depois as luzes apagaram-se de repente e cantámos todos os parabéns a outro menino que estava nessa mesa. O pai envolvia-o todo com um braço à volta do corpo e uma mão em toda a barriga pequenina. Ele no escuro, olhava com os olhos amarelos pequeninos espantados a vela inesperada. Fazia quatro anos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Há tantas coisas que penso e não conto a ninguém

Gostava de ser capaz, mas não sei como as dizer.