sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Há ainda outras vezes em que tenho vontade de chorar e involuntariamente sorrio, e de rir mas respiro fundo.

Às vezes, quando estou triste, não sei se o estou por a minha fé me fazer sentir os sofrimentos do mundo e me tornar incapaz de me defender fazendo o mal, ou se o estou por não ter fé suficiente e por isso não me bastar que Deus exista para estar feliz.

Outras vezes, estou feliz, e não sei se o estou por acreditar em Deus e ver que os meus sofrimentos não importam e que tenho a missão de estar feliz por Ele existir, ou se o estou por não acreditar verdadeiramente Nele e por isso não ter a compaixão que me é devida pelo sofrimento dos outros.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Gostava de te pedir que me desses a conhecer o mundo, pode ser este ano.

Queria finalmente saber nas tuas mãos frias o que é o Inverno.
Provar pela primeira vez - e pela segunda, e pela terceira - a chuva, na tua bochecha molhada.
Aprender o cheiro dos lugares pelo que cheiram nos teus cabelos.
Porque me gritarias, a partir daí os gritos que me derem poderão fazer-se ouvir como se fossem teus - lembrando-me de ti, mas mais que isso, fazendo-me perceber exactamente que grito é aquele, já que a atenção a uma coisa é proporcional ao amor que lhe temos, e por isso não posso compreender profundamente um grito de alguém que não amo, mas se tiver ouvido os teus, nas nuances que coincidam entre os teus tons o os do outro, poderei vislumbrar o íntimo dele.
O mesmo é verdade para o amanhecer em pleno Dezembro, reflectido em ti.

Estou incompleto sem ti, e a prova disso é saber que existes sem nunca te ter conhecido. É imaginar estas coisas sem nunca as ter vivido (sim, chegaram a mim de outras maneiras, mas fizeram sentido). És o órgão que me liga à terra.

Nas castanhas que comprei ontem no Chiado, encontrei-te. Não as queria comer sozinho e pensei como seria se as descascássemos juntos e eu levava-as na mão enquanto tu guardavas as casquinhas na tua - que ficaria com umas fuligenzinhas mas que tu, embora fina, não te importarias de sacudir como se não pudessem sujar-te o vestido e o casaco - o que tem muito mais valor, porque se fosses descuidada contigo própria, limpares as mãos ao casaco não revelaria qualquer amor às castanhas e a come-las comigo, apenas indiferença ao mundo.

Quando deitei as cascas fora, tu ficaste comigo na mesma.

Porque dentro de mim estás sempre, nunca te vi foi fora. Mas nunca duvido que existas porque se o mundo existe, como poderias não existir? Sendo mais preciso, tens de existir porque eu só poderia amar o mundo através de ti - pois tu és eu fora de mim, e, ao seres de dentro de mim aí fora, és também daí de fora aqui dentro. E amando-te a ti amo o mundo - e eu já amo o mundo.

Anda cá, vá.