No escuro somos todos crianças.
sábado, 19 de outubro de 2013
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Passarmos pela primeira vez sem sabermos
Passarmos pela primeira vez sem sabermos e descobrirmos no fim, porque foi diferente, que foi uma coisa nova.
Como quando nos cruzamos pela primeira vez com um poema de determinado autor, sobre quem nunca pensámos e nada sabemos, e de repente, acabámos de ler um poema do Hölderlin pela primeira vez.
E é como um cheiro estranho que sentimos subitamente, uma dor num sítio onde nunca nos tinha doído, ou talvez o primeiro período.
E depois a irreversibilidade, e um serão comum, um passeio no campo ou uma ida aos correios, subitamente ficará connosco para sempre.
Deve ter sido sempre assim, e continuar a sê-lo, com as coisas que, consoante as necessidades da época, são menos valorizadas — e portanto, não antecipadas — pela sociedade em nós.
Vivemos as coisas na primeira vez que ouvimos falar delas e chama-se a isso cultura. E portanto de tudo o quanto é desprezado mantêm-se puras as primeiras vezes, e nelas a liberdade de sofrer as consequências da ignorância.
Como alguém que descobrisse por acidente a sensação do toque da mão alheia entre as suas pernas.
A cultura que conseguimos ter hoje tirou-nos o sexo ingénuo, sem carga exterior, sem mais nada.
Mas deixou-nos os poemas.
Ainda há tantas coisas das quais somos virgens.
(e para as quais morreremos virgens)
((e o segredo dessas coisas é a nossa liberdade))
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