Para ele até àquele dia, O que arde cura significara sempre O que cura arde.
Ele tomava os charopes, mas pensava que meter os dedos na ficha não o ia ajudar na tosse. Ele achava até que o provérbio estava errado. Os seus pensamentos eram tristes nesses anos, e revelam a barbárie em que vivia.
Mas a Tradição, a mãe-de-tudo, a quem ele não hesitara voltar as costas, tinha algo guardado para ele, e fê-lo arder, arder.
E lá ia ele, pensando que escolhia os ardores e que, dentro deles, escolhia até os melhores.
Mas naquele dia ele não pode mais escolher e finalmente percebeu que a secular sapiência estava certa.
Todas as dores ensinam e afinal a sabedoria está ao alcance de todos. As pessoas que se sentem estúpidas que dêem uma cabeçada na parede e logo vêem.
Entre golpes que lhe tiraram pedaços do animal que nascera, sentiu vindos de todos os lados e a acertarem-lhe por dentro e por fora ardores que laqueavam artérias sem as quais afinal o sangue só fluia para onde devia.
Ele ouvira dizer, uma vez na televisão, que as pessoas saudáveis são aquelas que, em vez de ficarem paradas a pensar nas coisas, as vivem. Aquelas que não ficam a pensar durante anos Será que devo ter um filho? Será que mereço? Será que sou capaz? Sim? Não? acabando por ter um, mas sim as que têm o filho e pronto.
Talvez tenhamos então de ser um bocadinho menos saudáveis para ser melhores pensou ele.
Talvez tenhamos de ser um bocadinho doentes no corpo para podermos ser um bocadinho mais saudáveis na alma. Talvez até a própria ideia de saúde seja uma doença.
Talvez um animal-homem doente seja um humano-homem saudável.
Porque depois de arder, ele percebeu que afinal parecia que tudo o que nos mata um pouco nos faz maiores, como a dor do parto que mata fazendo a vida ficar maior.
Foi nesse dia que escreveu no caderno que sempre o acompanhava, no bolso: Direito número um dos homens: direito ao sofrimento.
Afinal os seus cabelos brancos não eram sinal de morte, mas de vida.
Ele tomava os charopes, mas pensava que meter os dedos na ficha não o ia ajudar na tosse. Ele achava até que o provérbio estava errado. Os seus pensamentos eram tristes nesses anos, e revelam a barbárie em que vivia.
Mas a Tradição, a mãe-de-tudo, a quem ele não hesitara voltar as costas, tinha algo guardado para ele, e fê-lo arder, arder.
E lá ia ele, pensando que escolhia os ardores e que, dentro deles, escolhia até os melhores.
Mas naquele dia ele não pode mais escolher e finalmente percebeu que a secular sapiência estava certa.
Todas as dores ensinam e afinal a sabedoria está ao alcance de todos. As pessoas que se sentem estúpidas que dêem uma cabeçada na parede e logo vêem.
Entre golpes que lhe tiraram pedaços do animal que nascera, sentiu vindos de todos os lados e a acertarem-lhe por dentro e por fora ardores que laqueavam artérias sem as quais afinal o sangue só fluia para onde devia.
Ele ouvira dizer, uma vez na televisão, que as pessoas saudáveis são aquelas que, em vez de ficarem paradas a pensar nas coisas, as vivem. Aquelas que não ficam a pensar durante anos Será que devo ter um filho? Será que mereço? Será que sou capaz? Sim? Não? acabando por ter um, mas sim as que têm o filho e pronto.
Talvez tenhamos então de ser um bocadinho menos saudáveis para ser melhores pensou ele.
Talvez tenhamos de ser um bocadinho doentes no corpo para podermos ser um bocadinho mais saudáveis na alma. Talvez até a própria ideia de saúde seja uma doença.
Talvez um animal-homem doente seja um humano-homem saudável.
Porque depois de arder, ele percebeu que afinal parecia que tudo o que nos mata um pouco nos faz maiores, como a dor do parto que mata fazendo a vida ficar maior.
Foi nesse dia que escreveu no caderno que sempre o acompanhava, no bolso: Direito número um dos homens: direito ao sofrimento.
Afinal os seus cabelos brancos não eram sinal de morte, mas de vida.
5 comentários:
"Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Como se chegando atrasado
Chegasse mais adiante"
Itamar Assumpção e Paulo Leminski
Escritores a sério!
:) Fantástico.
Tu miúda, és incrível. Tens sempre algo lindo na manga!
atrasadinho mental
Tens muita razão Maria, é como me sinto.
Volta sempre que te sentires demasiado adiantada.
Sabe, li este texto agora e sinto que só o compreendi hoje.
Vou reler daqui há alguns anos, talvez o entenda ainda mais.
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