segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O som do mundo

Foi por acaso que fiquei muitos dias sem me cruzar com uma televisão e que, nesses dias, também não ouvi rádio, não pus discos a tocar e o meu telemóvel esteve sem som.

E nem sequer teria dado conta de nada disto. Ou não tivesse subitamente, de um segundo para o outro, deixado de ouvir barulhos. Num segundo de pura lucidez sensorial, desapareceram aquelas canções que trauteava interiormente em frenesim, repetidas sem parar a todas as horas do dia. Deixei de ouvir um constante genérico de filme a passar na minha cabeça. Como se o ruído tivesse sido desligado. Como se tivese ficado surdo instantaneamente.

Mas não era surdez. De repente tudo tinha um som.

Estava sentado em silêncio e num sopro comecei a ouvir o Mundo.

E tudo passou a ouvir-se. Todos os objectos passaram a estar presentes, e eu ganhei uma nova forma de os sentir. Os sons naturais passaram a ser uma sinfonia e recuperei a minha ligação com o mundo.

E digo-vos, o som do Mundo é alucinantemente belo.

1 comentário:

Mayra disse...

Em meio ao lento silêncio as ondas encontram os corpos e desenham os nomes que damos a elas.

Eu gosto muito de ouvir você contar desse filme que passa na tua cabeça. Ele conversa com o filme que passa na minha.

(uma festinha para o menino que consegue ver poesia até nas moléstias)