sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Mas porque é que temos de exigir reciprocidade nas relações?

É que é tão melhor poder dar amor sem limites.

Porque é que eu tenho de ser obrigado a só gostar de quem gosta de mim? Porque haveria de só poder agir com amizade para quem fez o mesmo comigo, se genuinamente gosto de muitas pessoas que não tenho a sorte de me distinguirem especialmente na forma como me tratam, mas para com quem tenho sentimentos bons?

Porque é que hei de ser obrigado a perder tempo a agir com maldade só porque uma pessoa foi má para mim, duplicando assim o mal na minha vida por acrescentar ao que vem de fora, um que vem de dentro? 

E quando uma pessoa nos trata bem? Não devemos tratá-la bem por causa disso. Devemos tratá-la bem sempre.

A reciprocidade é uma troca, não uma dádiva. É um racionalismo que só nos faz sofrer proque nos obriga a ser maus para pagarmos com mal o mal dos outros. É assim que a razão leva à maldade.

É um capitalismo afectivo.

E é urgentemente, radicalmente, bondosamente preciso parar a invasão.

4 comentários:

Carolina disse...

Capitalismo afectivo. Adorei o post. Descreveste exactamente aquilo que tenho andado a sentir. Resumiste-o tão bem, que agora vai ser mais fácil aperceber-me de novos acessos deste tipo de desequilibro emocional.
Um beijo enorme.

Maria disse...

Suponho que a nossa tendência para fazer mal a quem nos faz mal derive de um instinto muito animalesco de auto-preservação. A auto-preservação faz todo o sentido e se alguém, por exemplo, nos bate, nós batemos-lhe para assegurarmos que esse alguém não repete o que fez. Dizemos "não me batas, ou arrependes-te, porque também te bato" e assim ficamos livres de que nos partam as pernas e já não possamos ir buscar comida. Claro que o outro pode continuar a bater-nos, mas isso será porque provavelmente não fomos suficientemente persuasivos. E o contrário também se passa, através de boas ações para com alguém que nos faz bem, asseguramos que esse alguém se mantenha do nosso lado, e isso é vantajoso para os dois. Tu chamas-lhe capitalismo, eu chamo-lhe biologia. Mas também faz parte da Natureza, já que nós fazemos parte da Natureza, a bondade, o altruísmo, as boas maneiras, a gentileza. São tudo coisas que nos ajudam a, em vez de nos safarmos cada um por si, nos unirmos e resolvermos tudo na mesma de uma forma mais feliz até. E há a espiritualidade, e o desejo presente em todos de que o mundo seja melhor. Portanto, o que queria dizer é que não temos de exigir reciprocidade nas relações. Só temos esse instinto porque somos animais. Se calhar se vivêssemos na selva e fôssemos leões seria bom mantê-lo. Mas assim sendo, acho que é melhor contrariá-lo. Até porque em muitos de nós já nem isso é preciso fazer. Muitos não têm essa vontade de fazer mal depois de alguém lhes fazer mal, e na verdade, só querem que fique tudo bem e tranquilo. E para essas pessoas, normalmente é a sociedade, onde há muitas pessoas que ainda têm esse instinto, que lhes incute a ideia de que se não se defenderem com o ataque são uns fracos, vão ficar mal, etc. Já tive esse dilema interno, porque acho que sou dessas pessoas que não quer fazer mal a ninguém só porque me fizeram mal. Normalmente até quero fazer alguma coisa simpática, para essa pessoa ser feliz (e há uma vontade inexplicável de ver as pessoas felizes, talvez um instinto também, bastante mais simpático), ou porque acho que talvez essa pessoa tenha tido motivos que eu não estou a ver e eu tenho a obrigação moral de a ajudar. E desde que me apercebi que é isso que eu quero e que é isso que vou fazer, deixei de ter medo de mostrar que gosto das pessoas mais do que elas de mim, deixei de ter medo de ser rejeitada ao fazer o que acho bem fazer e não o que me dá mais ar de forte ou independente, deixei de ter medo do mal que me possam fazer, porque sei que vou conseguir ultrapassar apenas aceitando o que aconteceu e perdoando por ter acontecido, e gosto mais de toda a gente e de mim. Por isso, de uma perspetiva capitalista, compensa mesmo não exigir compensações.

Maria disse...

(Mas também não é aconselhável não exigirmos absolutamente nada de ninguém, porque senão não só mostramos a nossa falta de fé na capacidade dos outros como nos tornamos uns arrogantes-condescendentes da moral :p)

jóni bi gud tunáite disse...

Concordo plenamente contigo, Pedro. Gostei deste artigo!