terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Primeiro amor

Não há mais nenhum amor como o primeiro porque só o ingénuo pode amar, e quem poderá ser ingénuo se não antes do primeiro amor?

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Quem é este homem?

Um homem descobre quem é quando descobre a casa em que irá viver.

domingo, 12 de agosto de 2012

O tempo não vai justificar o quanto cresci

Ao acordar, cheiro na minha pele o cheiro da pele dos meus avós.

Penso naqueles que foram privados dos avós. Vão acordar um dia, sentir em si o cheiro, e não vão saber o que ele significa...

Penso no dia em que os meus avós acordaram e sentiram o seu cheiro de adultos pela primeira vez.

Quando a velhice de alguém deu amor à nossa infância, envelhecer traz-nos surpresas inesperdas.

domingo, 5 de agosto de 2012

Despojos de guerra

Impressionante como o acto de combater nos transforma nos nossos inimigos.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Não nos conhecemos

Com base naquilo que consigo saber hoje, parece-me que muitas vezes - não posso dizer todas, porque como poderia eu saber de todas as vezes? - aquilo que julgamos serem as nossas maiores qualidades são os nossos maiores defeitos.

domingo, 29 de julho de 2012

Quando se toca o que nunca se tinha tocado

Quando conhecemos pela primeira vez uma pessoa pela qual ficamos enamorados, da qual nada conhecemos das fundações secretas interiores que a fazem ser como é - de cujo o desconhecimento vem a emoção de milagre de vermos ser real alguém que não compreendemos como é possível existir - parece-me que não é, ao contrário do que muitos pensam, o nosso futuro conhecimento dessas fundações que, ao revelar o que antes era mistério, destrói o nosso amor. Sinto que é antes a nossa incorrecta acção e influência sobre essas mesmas fundações, que pela convivência com as nossas, transformam a outra pessoa em alguém mais parecido consoco, justamente essa pessoa de quem, ao estarmos com alguém completamente diferente de nós, queríamos fugir.

Qual das vezes será a última?

De repente passaram três meses.

Vamos pela primeira vez a um lugar e saímos de lá a pensar que o temos para sempre. Mas na nossa vida quantas vezes lá voltaremos? Quinze. Trezentas. Duas. Nunca?

E de todas essas vezes será um lugar diferente.

Ontem ouvi uma vida inteira ser cantada ao mesmo tempo. Uma voz que numa polifonia transcendente nos fez ouvir no mesmo instante, num só fado, os setenta anos de fados que foram cantados antes por aquela mesma garganta, e que a filtraram e trabalharam a caminho de um fado absoluto. Setenta anos de vida que só assim, no derradeiro fado, poderá ser cantada por inteiro. Num fado que é simultâneamente o último e o primeiro.

E de repente, a senhora tão velhinha que cantava não se lembrava da letra. Desde que aprendera aquela canção ao vinte e cinco anos até ontem, nunca se tinha esquecido. Talvez só assim se possa verdadeiramente cantar. Algo na voz dela cantava como se aquela vez fosse - não a primeira vez, nem a última - mas a única.

Voltamos. Será que voltamos?

De repente passaram setenta anos.

domingo, 8 de abril de 2012

A verdade

O que me provoca mais espanto é as pessoas acharem de si próprias que são inteligentes ao afirmarem que as palavras da Bíblia não são verdade e simultaneamente acreditarem nas palavras que vêm nos jornais - afirmações escritas não sabemos por quem sobre acontecimentos passados em lugares onde nunca estivemos, com pessoas que não conhecemos e de que não temos qualquer prova que tenham existido.

sábado, 7 de abril de 2012

Desde há mil novecentos e setenta e cinco anos

O que mantém Cristo preso à cruz não são os pregos, é o amor que tem por nós.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Afinal

Tenho aprendido tanto ao longo destes anos, que começo a pensar se a vida não faz mesmo sentido afinal.

domingo, 1 de abril de 2012

Raccord

Ontem estava a fazer a depilação e pensei em ti.




Quando vieres visitar-me não faças a barba.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Dominar

Dá-me a sensação que as pessoas que fazem programas para a televisão imaginam que as pessoas só vêem nas suas imagens o que eles pensam que lá põem.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Como seria bom

Às vezes temos o instinto de pensar em como seria bom o mundo se todas as pessoas fossem iguais a nós.

Tenho a sensação que a verdade é que são.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A fraca auto-estima como instinto para crescer

Ao ter alcançado a conclusão de que aceitar que não sabemos algo é condição essencial a aprendê-lo, fiquei surpreendido por algo tão óbvio me surgir tão esclarecedor.

É essa aceitação que permite identificar interiormente o buraco certo para aquilo que queremos introduzir em nós, assimilar, apreender. Torna tudo tão rápido se comparada àquela forma desconfiada de aprender, em que a cada passo questionamos os danos que causará em nós o que nos é proposto.

Pois se por vezes há espaços vazios, noutros há o perigo pôr algo novo sobre algo que já lá estava.

Assim, não surpreende o número de pessoas que não aprende coisas novas porque não quer. Tudo por afeição à pessoa que a sua ignorância lhe permite ser. É, no fundo, um instinto de auto-preservação. Porque a pessoa depois de aprender uma coisa nunca mais é a mesma. E uma pessoa pode não querer deixar de ser quem é.

E nunca me esqueço que não ter passado por algo é também saber o que é não ter passado por isso. Basta pensar que não há sorriso mais puro que o de um bebé.

Enquanto há certas pessoas que querem aprender para passar a ser a pessoa que seria amada pela pela pessoa que ainda são mas que deixarão de ser ao tornarem-se essa, outros querem preservar a felicidade que serem quem são lhes proporciona.

No fundo, uma pessoa quer aprender por fraca auto-estima.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

morrer e Viver

Descobri a missa nos funerais.

Que alegria a de saber que posso ir a uma todos os dias e não ter de morrer ninguém para poder haver algo Assim.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Há ainda outras vezes em que tenho vontade de chorar e involuntariamente sorrio, e de rir mas respiro fundo.

Às vezes, quando estou triste, não sei se o estou por a minha fé me fazer sentir os sofrimentos do mundo e me tornar incapaz de me defender fazendo o mal, ou se o estou por não ter fé suficiente e por isso não me bastar que Deus exista para estar feliz.

Outras vezes, estou feliz, e não sei se o estou por acreditar em Deus e ver que os meus sofrimentos não importam e que tenho a missão de estar feliz por Ele existir, ou se o estou por não acreditar verdadeiramente Nele e por isso não ter a compaixão que me é devida pelo sofrimento dos outros.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Gostava de te pedir que me desses a conhecer o mundo, pode ser este ano.

Queria finalmente saber nas tuas mãos frias o que é o Inverno.
Provar pela primeira vez - e pela segunda, e pela terceira - a chuva, na tua bochecha molhada.
Aprender o cheiro dos lugares pelo que cheiram nos teus cabelos.
Porque me gritarias, a partir daí os gritos que me derem poderão fazer-se ouvir como se fossem teus - lembrando-me de ti, mas mais que isso, fazendo-me perceber exactamente que grito é aquele, já que a atenção a uma coisa é proporcional ao amor que lhe temos, e por isso não posso compreender profundamente um grito de alguém que não amo, mas se tiver ouvido os teus, nas nuances que coincidam entre os teus tons o os do outro, poderei vislumbrar o íntimo dele.
O mesmo é verdade para o amanhecer em pleno Dezembro, reflectido em ti.

Estou incompleto sem ti, e a prova disso é saber que existes sem nunca te ter conhecido. É imaginar estas coisas sem nunca as ter vivido (sim, chegaram a mim de outras maneiras, mas fizeram sentido). És o órgão que me liga à terra.

Nas castanhas que comprei ontem no Chiado, encontrei-te. Não as queria comer sozinho e pensei como seria se as descascássemos juntos e eu levava-as na mão enquanto tu guardavas as casquinhas na tua - que ficaria com umas fuligenzinhas mas que tu, embora fina, não te importarias de sacudir como se não pudessem sujar-te o vestido e o casaco - o que tem muito mais valor, porque se fosses descuidada contigo própria, limpares as mãos ao casaco não revelaria qualquer amor às castanhas e a come-las comigo, apenas indiferença ao mundo.

Quando deitei as cascas fora, tu ficaste comigo na mesma.

Porque dentro de mim estás sempre, nunca te vi foi fora. Mas nunca duvido que existas porque se o mundo existe, como poderias não existir? Sendo mais preciso, tens de existir porque eu só poderia amar o mundo através de ti - pois tu és eu fora de mim, e, ao seres de dentro de mim aí fora, és também daí de fora aqui dentro. E amando-te a ti amo o mundo - e eu já amo o mundo.

Anda cá, vá.