domingo, 13 de junho de 2010

De como se processou a evolução para a felicidade

Naquele tempo, o capitalismo foi de uma grande audácia.

Percebeu que não se conseguiria manter só com os homens.

Depois de já lhes ter explicado que a vida no amor da família não era a felicidade, havia porém sempre a sua característica fraqueza que os puxava de novo para sentimetos irracionais.

Por mais que o capitalismo lhes explicasse que ter filhos era, para além de desnecessário, desagradável porque os impedia de pensar nos seus prazeres, havia sempre uma minoria menos apta para a evolução que não se deixava iluminar, e que estranhamente, influenciava muitos outros. O amor por uma mulher e uma família fazia-os perder tempo, tempo esse que deviam usar para o trabalho, para, através dele, rumarem à evolução.

Foi aí que o capitalismo percebeu que só poderia sobreviver através da correção desse defeito nas mulheres que fazia com que os prazeres por elas dados aos homens superassem os oferecidos pelo capitalismo.

Explicou então às mulheres que elas eram maltratadas, injustiçadas e discriminadas por não serem homens.

As mulheres, nas quais o capitalismo criara há muito necessidades enormes de consumo - técnica através da qual tinha conseguido que os homens trabalhassem, pois as necessidades materiais das mulheres obrigavam os homens à riqueza se as quisessem manter - perceberam que o capitalismo tinha razão, que tinham de ser elas a sustentar as suas necessidades de prazer, pois os homens não o faziam na perfeição.

Foi assim que o capitalismo melhorou as mulheres.

Os resultados foram magníficos, pois resultaram na duplicação da mão de obra disponível, o que permitiu ao capitalismo multiplicar várias vezes a sua velocidade evolutiva e um aumento exponencial do lucro.

Mas houve, como sempre, uma reacção contra-evolucionária.

Com a sua habitual fraqueza, os homens sentiram-se perdidos. Não tinham mais as mulheres para nelas depositar o seu sentimento irracional. Logo, não tinham pelo que trabalhar, pois os prazeres que os motivavam, tinham agora desaparecido.

O capitalismo não tinha, naquele tempo, previsto que a fraqueza masculina fosse tão grande. Mas também para isso encontrou uma solução.

Lembrou aos homens as dificuldades de manter uma mulher. As zangas, as chatiçes de ter de aturar alguém que não é igual a nós. Alguém que não compreendemos, alguém que exige tempo que deve ser gasto no trabalho para a evolução.

Os homens, que depois de tanto tempo, já não se lembravam bem do que era uma mulher, perceberam finalmente que o esforço não compensava, e que a felicidade era sim encontrar alguém igual a eles, outro homem, que os compreenda, de modo a que possam ter mais prazer com menos esforço.

As ex-mulheres, que nesse tempo já odiavam os homens, ficaram felizes ao saberem que estes iam desaparecer e não as iam impedir de se amarem entre si, e tornaram-se grandes defensoras dos ex-homens, pois eles garantiam também a sua posição de ex-mulheres.

Os ex-homens e as ex-mulheres, tornados assim cada vez mais idênticos, venceram desta forma os homens e as mulheres e completaram a evoução capitalista, tornando-se super-homens e super-mulheres.

Os super-humanos viveram assim felizes para sempre. Fazendo sexo entre si, trabalhando muito para garantir que os prazeres eram o mais satisfatórios possíveis e nunca desapareceriam, já que, como a ciência tinha feito deles imortais, durariam para sempre.

1 comentário:

Aurora disse...

não chegará a esse ponto.
mas é um bom aviso...