terça-feira, 4 de novembro de 2008

Os olhos

Há uns dias cruzei-me na rua com um amigo. Parámos e falámos de coisas intelectuais e interessantes. Falámos de livros e ele apresentou-me um amigo seu. Esta história começa quando o amigo está a falar e eu reparo nos olhos dele.

Emprenhados pelo Sol laranja de fim de tarde, eram da cor do mel brilhante, como âmbar, mas mais bonitos. Eram intensos e eram elegantes. Fiquei a ouvi-lo mas a certa altura foi como se a voz dele se separasse do corpo e, subitamente, ficasse silêncio, enquanto na minha cabeça fazia um zoom de 46 vezes, 3000 mega-pixels aos olhos dele.

Dei por mim a pensar que aqueles olhos tinham algo de fulminante. Nunca senti atração por um rapaz, mas por aqueles olhos, sim, naqueles olhos eu podia ser feliz. Fiz o zoom out - 46 vezes e 3000 mega-pixels para trás - e vi-me debruçado sobre aqueles olhos, que agora pertenciam a uma moça. Linda de morrer, toda a sua beleza correspondia à daqueles olhos. Como diz o John Cusack no Hi Fidelity, ela compatia a cem por cento com os meus sentidos. E foi aí que percebi pela primeira vez na vida, que os olhos são a única parte do corpo humano que, pelo menos à vista, é igual entre homens e mulheres. E vi a mulher linda que aquele rapaz podia ter sido, no lugar do barbudo que ali estava. Pensei no que poderia ter acontecido entre nós se ele tivesse nascido mulher. E foi assim que nos olhos de um rapaz eu vi a mulher dos meus sonhos.

E percebi que não há nada de homossexual em apreciar os olhos de outros rapazes. Os olhos não têm género, e talvez sejam até a única forma de um rapaz heterossexual ou de uma lésbica apreciarem sexualmente um rapaz .

(a frase Os olhos dela não fazem o meu génro acaba de perder qualquer sentido)

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