terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Os tempos estão a mudar

Às vezes os nossos pais e avós falam-nos do seu tempo e nós ouvimos. Às vezes lemos em livros como se vivia noutros tempos e até julgamos que conseguimos imaginar, mas não conseguimos, como a fábrica onde o meu avô foi operário há sessenta anos atrás, junto ao rio Tejo, onde trabalhavam mais de mil pessoas, num edifício enorme do qual hoje só resta um descampado. 

O mundo muda muito mais do que podemos imaginar. Mas é tão bonito imaginar que aconteceu tudo no mesmo mundo. Foi no mesmo mundo que houve o Império Romano e que foi filmado o The Marix. Foi no mesmo mundo que os portugueses juntaram que hoje todos lêem sobre isso nos seus Macintoshes. A Apple dos computadores é a mesma da Bíblia. A Inquisição houve no mesmo planeta do Jack Kerouac e da civilização Maia. Hoje estamos vivos porque desde há milhões de anos até hoje os nossos antepassados foram tendo filhos, e mais filhos, até que os filhos somos nós, que por nossa vez também teremos filhos e continuaremos o ciclo. Não há nenhum Ser Humano que não seja descendente de pré-históricos, nem nenhuma pessoa do futuro que não seja nossa descendente. E todas estas pessoas tiveram vidas incríveis e cheias de coisas que nunca conheceremos ou que nunca sentiremos como eles as sentiram.

Hoje foi anunciado o fim de um dos objectos fundamentais da minha infância. Um que as minhas mãos manusearam e que conhecem de cor, do qual conhecem todos os truques, texturas e pesos. Do qual conheço o cheiro. Sem o qual a minha vida teria sido completamente diferente. Com o buliço dos tempos, as pessoas não olham para trás. Um dia vamos ficar muito admirados de termos oitenta anos (se lá chegarmos). Hoje morreu um objecto fundamental da minha infância e um dia todos ficarão muito admirados sequer de ele ter existido. E essas pessoas não serão nem melhores nem piores que nós, nem os seus tempos serão piores ou melhores que o nosso, serão só outras elas e diferentes os tempos. Pessoas que um dia dirão Lembras-te do VHS? 

Nesse dia não saberão dizer, mas foi hoje que morreu.

Proponho a alguém que perceba do assunto editar um livro chamado O Grande Livro dos Objectos Desaparecidos. Eu comprava. Será um sucesso, garanto-vos.

3 comentários:

Mayra disse...

Oh Pê, eu também ponho luto por esta perda. Adoro as fitinhas para se colocar no aparelho, para rebobinar, para colar etiquetas nas laterais. Tenho uma coleção delas aqui em casa! Mas infelizmente elas estão órfãs a algum tempo. Quebrado o meu aparelho, não se encontra mais nenhum a vender por aí... Um dia realmente muito triste.

Aurora disse...

por acaso o vhs não me fascina nada nada nada

as K7s audio já morreram há mais tempo e essas são-me mais nostálgicas.

mas que o mundo é a Terra de tudo, isso sim. e como o amamos assim

M. disse...

Then you better start swimmin'
Or you'll sink like a stone
For the times they are a-changin'

também estou de luto. guardarei o meu vídeo com carinho e todas as cassetes, não me desfaço das gravadas, e desgravadas, com capas improvisadas que saíam nas revistas e afins. guarrdo tudo.

um dia vai saber bem ouvir o barulho do play até começar o filme outra vez e do rewind.