Oiço dizer que Os rapazes bons já têm todos namorada. Que Não há raparigas fixes. Que ninguém Conhece ninguém de jeito. E é assim que vemos o Amor hoje.
Todos queremos amar. Mesmo quem não acredita no Amor, gostava de acreditar. Ninguém sabe explicar o que é o Amor, mas todos sabem quando o sentem. Ahh, então é isto o amor sentimos. Eu também não sei explicar o que é o Amor. Só há uma coisa, pequena, que descobri. O Amor não se encontra. Não basta procurar. O Amor acontece, mas acontece porque nós fazemos com que aconteça. Procurar tem de ser agir. Procurar ter de ser construir. Procura-construção.
A procura-construção dá trabalho e leva tempo. Mas esta forma de pensar é completamente alienigena à minha geração. Graças ao capitalismo, habituamo-nos a pensar e a viver fora do tempo. Viver fora do tempo é, por exemplo, não termos mais consciência que, para comer um bife, é preciso esperar o tempo que a vaca ou o porco levam a crescer, o tempo que levam a ser alimentados, para que finalmente os possamos comer. O mesmo é verdade para uma alface, ou para uma maçã. É verdade para tudo. Antigamente, quando éramos nós que produzíamos a nossa comida - nós ou o nosso vizinho com quem trocávamos galinhas por batatas - víamos as coisas crescer e sabíamos que tínhamos de investir na coisa para ela ser grande, boa e gostosa. Da mesma forma, tínhamos de ser nós a construir a nossa casa. Não bastava comprá-la. O mesmo para as famílias. Tinham de ser as pessoas a construí-las.
No capitalismo tudo é comprado. Temos de trabalhar, é certo, mas tudo pode ser comprado no momento. Ninguém pensa que está, neste instante, nalgum campo no Alentejo, a crescer a alface que vamos comer daqui a uns meses. Mas está. Perceber o tempo já é um grande passo.
Mas a minha geração tem outra deficiência. Além de não compreender o tempo, é ainda mais difícil para nós conseguir imaginar o esforço e o tempo e a dedicação necessárias para que as alfaces fiquem boas. Hoje as coisas só passam a existir já prontas. A vida é um super-mercado. Compramos a nossa roupa, a nossa personalidade, os nossos gostos. Consumimos. Queremos, e temos, tudo na hora. Sem esforço.
Mas as pessoas trabalham! dir-se-á. A minha geração não. Não gostamos. Não é bem o nosso tipo de coisa. Ou talvez não tenhamos jeito. A minha geração prefere depender dos pais. Isso sim, é bom. E é por isso que a minha geração não aprendeu a tirar prazer do trabalho. Só nos dá prazer o que implicar estar parado, descansado, relaxado. É um estilo de vida. Quando se passa o dia-a-dia da vida parado, o único divertimento acima desse é estar mais-que-parado. Já não basta estar fisicamente estático, é preciso estar intelectualmente estático. É preciso fumar charros ou ficar entupido de cerveja, para chegar aos níveis sub-zero do relaxamento. O -1, o -2, o -3, como os andares de garagem do meu prédio. Quando já não é humanamente possível ser mais inútil, fuma-se um pouco e passa-se a conseguir.
Uns quantos de nós, mais esforçados, ainda se dão ao trabalho (imagine-se, ao trabalho) de se auto-consrtuirem e melhorarem, independentes (uns mais, outros menos) daquilo que a sociedade de consumo diz que eles devem ser. Lêem livros que não são os que a Escola, ou a Sociedade, diz que eles devem ler. Vêm filmes que não são publicitados como os outros, vestem umas roupas que gostam e não as que todos usam. Têm trabalho a auto-construir-se e isso é admirável.
Mas quase ninguém tem trabalho em alguma coisa que não seja o EU. É por isso que ninguém sabe amar. Porque amar é uma construção. Porque amar dá trabalho e leva tempo. Porque amar é acreditar em algo que não existe e torná-lo possível.
Uma vez um amigo meu disse a outro amigo meu uma frase de que nunca me esqueci: Precisas de uma mulher que faça de ti um homem. Amar o outro é fazer dele ou dela um homem ou uma mulher. É por isso que todos os rapazes de jeito já têm namorda, assim como todas as grandes mulheres já estão casadas. Porque encontraram alguém que fez deles grandes.
Por isso não se encontra o amor. As pessoas falam de encontrar o amor como se vivessem num super-mercado gigante e estivessem a dizer que não encontram a secção do amor. Ai, não encontro o Amor em lado nenhum... Desculpe, o Amor está em que prateleira?
O Amor faz-se.
Amar alguém é encontrarmos a pessoa que nos permite sermos nós. Na era do individualismo capitalista, as pessoas só se sabem fazer sozinhas. Ninguém se faz sozinho tão bem como se poderia fazer acompanhado pelo Amor. São as pessoas que nos amam e que amamos que nos fazem.
Quando conhecemos alguém novo, essa pessoa nunca é a pessoa que sonhámos amar. Ninguém é. Mas o Amor é uma espécie de radar que vê para além do tempo e nos permite ver tudo o que aquela pessoa poderia ser conosco. Um lado dessa pessoa que pode nunca se ter revelado à própria pessoa, mas que se ela se entregar à outra pode vir a transformar-se e a ter algo que já era seu mas que o próprio não sabia que tinha ou podia ter. O Amor é criador. Desperta coisas que o próprio nunca despertou porque nunca se interessou por elas e nem sabia que as tinha. É aquilo que vivemos juntos, a história partilhada vivida em conjunto que nos permite sermos. É um investimento. Não se trata de fazer da pessoa o que gostamos contra a vontade dela, ou de mudá-la. Isso é o que de mais horrível se pode tentar fazer, é o oposto do Amor. Amor é ajudar a pessoa a ser mais ela própria. A ser-se em toda a sua glória.
Não deixa de ser muito curioso que na minha geração os namoros sejam contratos, quase como casamentos, mas sem aquilo que mais assusta a minha geração. A ideia de para sempre. Ou seja, o tempo. Os namoros são para sempre até deixarem de ser. São exatamente um casamento, já que a maioria não dura até ao fim. O ser humano sempre encontrará formas rebuscadas de contornar os seus problemas. O que nunca irá acontecer é as pessoas ficarem sozinhas. Um dia, vai haver um grande despertar.
Todos queremos amar. Mesmo quem não acredita no Amor, gostava de acreditar. Ninguém sabe explicar o que é o Amor, mas todos sabem quando o sentem. Ahh, então é isto o amor sentimos. Eu também não sei explicar o que é o Amor. Só há uma coisa, pequena, que descobri. O Amor não se encontra. Não basta procurar. O Amor acontece, mas acontece porque nós fazemos com que aconteça. Procurar tem de ser agir. Procurar ter de ser construir. Procura-construção.
A procura-construção dá trabalho e leva tempo. Mas esta forma de pensar é completamente alienigena à minha geração. Graças ao capitalismo, habituamo-nos a pensar e a viver fora do tempo. Viver fora do tempo é, por exemplo, não termos mais consciência que, para comer um bife, é preciso esperar o tempo que a vaca ou o porco levam a crescer, o tempo que levam a ser alimentados, para que finalmente os possamos comer. O mesmo é verdade para uma alface, ou para uma maçã. É verdade para tudo. Antigamente, quando éramos nós que produzíamos a nossa comida - nós ou o nosso vizinho com quem trocávamos galinhas por batatas - víamos as coisas crescer e sabíamos que tínhamos de investir na coisa para ela ser grande, boa e gostosa. Da mesma forma, tínhamos de ser nós a construir a nossa casa. Não bastava comprá-la. O mesmo para as famílias. Tinham de ser as pessoas a construí-las.
No capitalismo tudo é comprado. Temos de trabalhar, é certo, mas tudo pode ser comprado no momento. Ninguém pensa que está, neste instante, nalgum campo no Alentejo, a crescer a alface que vamos comer daqui a uns meses. Mas está. Perceber o tempo já é um grande passo.
Mas a minha geração tem outra deficiência. Além de não compreender o tempo, é ainda mais difícil para nós conseguir imaginar o esforço e o tempo e a dedicação necessárias para que as alfaces fiquem boas. Hoje as coisas só passam a existir já prontas. A vida é um super-mercado. Compramos a nossa roupa, a nossa personalidade, os nossos gostos. Consumimos. Queremos, e temos, tudo na hora. Sem esforço.
Mas as pessoas trabalham! dir-se-á. A minha geração não. Não gostamos. Não é bem o nosso tipo de coisa. Ou talvez não tenhamos jeito. A minha geração prefere depender dos pais. Isso sim, é bom. E é por isso que a minha geração não aprendeu a tirar prazer do trabalho. Só nos dá prazer o que implicar estar parado, descansado, relaxado. É um estilo de vida. Quando se passa o dia-a-dia da vida parado, o único divertimento acima desse é estar mais-que-parado. Já não basta estar fisicamente estático, é preciso estar intelectualmente estático. É preciso fumar charros ou ficar entupido de cerveja, para chegar aos níveis sub-zero do relaxamento. O -1, o -2, o -3, como os andares de garagem do meu prédio. Quando já não é humanamente possível ser mais inútil, fuma-se um pouco e passa-se a conseguir.
Uns quantos de nós, mais esforçados, ainda se dão ao trabalho (imagine-se, ao trabalho) de se auto-consrtuirem e melhorarem, independentes (uns mais, outros menos) daquilo que a sociedade de consumo diz que eles devem ser. Lêem livros que não são os que a Escola, ou a Sociedade, diz que eles devem ler. Vêm filmes que não são publicitados como os outros, vestem umas roupas que gostam e não as que todos usam. Têm trabalho a auto-construir-se e isso é admirável.
Mas quase ninguém tem trabalho em alguma coisa que não seja o EU. É por isso que ninguém sabe amar. Porque amar é uma construção. Porque amar dá trabalho e leva tempo. Porque amar é acreditar em algo que não existe e torná-lo possível.
Uma vez um amigo meu disse a outro amigo meu uma frase de que nunca me esqueci: Precisas de uma mulher que faça de ti um homem. Amar o outro é fazer dele ou dela um homem ou uma mulher. É por isso que todos os rapazes de jeito já têm namorda, assim como todas as grandes mulheres já estão casadas. Porque encontraram alguém que fez deles grandes.
Por isso não se encontra o amor. As pessoas falam de encontrar o amor como se vivessem num super-mercado gigante e estivessem a dizer que não encontram a secção do amor. Ai, não encontro o Amor em lado nenhum... Desculpe, o Amor está em que prateleira?
O Amor faz-se.
Amar alguém é encontrarmos a pessoa que nos permite sermos nós. Na era do individualismo capitalista, as pessoas só se sabem fazer sozinhas. Ninguém se faz sozinho tão bem como se poderia fazer acompanhado pelo Amor. São as pessoas que nos amam e que amamos que nos fazem.
Quando conhecemos alguém novo, essa pessoa nunca é a pessoa que sonhámos amar. Ninguém é. Mas o Amor é uma espécie de radar que vê para além do tempo e nos permite ver tudo o que aquela pessoa poderia ser conosco. Um lado dessa pessoa que pode nunca se ter revelado à própria pessoa, mas que se ela se entregar à outra pode vir a transformar-se e a ter algo que já era seu mas que o próprio não sabia que tinha ou podia ter. O Amor é criador. Desperta coisas que o próprio nunca despertou porque nunca se interessou por elas e nem sabia que as tinha. É aquilo que vivemos juntos, a história partilhada vivida em conjunto que nos permite sermos. É um investimento. Não se trata de fazer da pessoa o que gostamos contra a vontade dela, ou de mudá-la. Isso é o que de mais horrível se pode tentar fazer, é o oposto do Amor. Amor é ajudar a pessoa a ser mais ela própria. A ser-se em toda a sua glória.
Não deixa de ser muito curioso que na minha geração os namoros sejam contratos, quase como casamentos, mas sem aquilo que mais assusta a minha geração. A ideia de para sempre. Ou seja, o tempo. Os namoros são para sempre até deixarem de ser. São exatamente um casamento, já que a maioria não dura até ao fim. O ser humano sempre encontrará formas rebuscadas de contornar os seus problemas. O que nunca irá acontecer é as pessoas ficarem sozinhas. Um dia, vai haver um grande despertar.
2 comentários:
É, é assim que Somos!
É, eu também acho que Somos ;)
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