sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Poema XII

Tudo à volta são suicídios lentos.

Meticulosas degradações

subtrações

experiências

na era em que a única arte é a da morte.



Quando um dia sobre os despojos da guerra

só eu e tu restarmos

Quando já não houverem coisas

só meias coisas, escombros



Quando só restarem mulheres enlouquecidas

e homens gastos, ratos

Quando todos os outros falharam

endoideceram

ou se fecharam em caixas e casas,



Aí nos encontraremos, sobreviventes porque inteiros,

eu e tu, mulher sã.

Simples mãe da dignidade, que não pensa, vive

e não destruiu o seu sorriso.



Tratarei de te manter assim,

pois é o meu ofício.

Não há loucura nas flores, nem nas lagoas, nem nos vestidos

de noiva.



Sozinhos eternamente, acompanhados por sermos únicos,

o mundo será nosso

e construiremos cabanas

com trapos

a que outros chamaram bandeiras.