segunda-feira, 24 de novembro de 2008

É assim uma espécie de solidão absoluta, que não deve ser consfundida com tristeza. É triste, a solidão, mas não é a tristeza em si mesma. A Solidão é sentir que não há ninguém que queria estar comigo e perceber que também não há ninguém com quem queira estar. Mas que não quero estar sozinho. A solidão é querer estar com alguém que não existe. A solidão pode ser amansada com música da Joanna Newsom, ou com fotografias bonitas a preto e branco, mas não se vai embora. Podemos escrever sobre ela e não se vai embora. Pode ser temperada com mensgens de pessoas a acusarem-nos de não querermos estar com elas como se isso não fosse um direito nosso, mas isso não a torna mais gostosa. E o pior de tudo sobre a solidão é que nem sequer tem um twist final e quando escrevemos sobre ela, o texto parece completamente desprovido de objectivo dramático ou até de importância. Somos só mais um solitário que não consegue dar a volta por cima e vem lamentar-se para um blogue que ninguém lê... É isso que é triste na solidão.

6 comentários:

Mayra disse...

Me parece que nem sempre a constatação da solidão seja triste, às vezes até nos rende uma boa música. Esta é de um sambista muito elegante e sábio. Não sei se conhece, espero que goste.


Dança da solidão

Solidão é lava que cobre tudo
Amargura em minha boca
Sorri seus dentes de chumbo
Solidão palavra, cavada no coração
Resignado e mudo, no compasso da desilusão

Camélia ficou viúva, Joana se apaixonou
Maria tentou a morte por causa do seu amor
Meu pai sempre me dizia, meu filho tome cuidado
Quando eu penso no futuro eu não esqueço o meu passado

Quando chega a madrugada
Meu pensamento vagueia
Com os dedos na viola
Contemplando a lua cheia
Apesar de tudo existe, uma fonte de água pura
Quem beber daquela água
Não terá mais amargura

Desilusão, desilusão
Danço eu, dança você
Na dança da solidão

Paulinho da Viola

Anónimo disse...

Eu leio-te.

Quando pensamentos desses me vencem, vou de minha casa ao miradouro da Graça (é perto), sento-me no muro a ouvir as badaladas do sino da Igreja mesmo ao lado. Deixo que a minha miopia turve as luzes da cidade. O sentimento não passa mas pelo menos aproveitei-o ao máximo. E, tal como alguém me lembrou há umas semanas, lembro-te: as surpresas estão sempre a acontecer.

jóni bi gud tunáite disse...

Eu também leio!

Calor Humano disse...

Mamázinha, conheço, e adoro, adoro. Que bem lembrada! A primeira vez que a ouvi foi pela voz da Beth Carvalho e fiquei logo apaixonado (pela canção). Gosto tanto. Mais uma vez me surpreendes sabendo tudo sobre mim, adivinhando, intuindo aquilo que eu julgava que sabia mas que me lembras e explicas melhor. Fico-te muito obrigado. Dança da solidão é um nome tão bom. "amargura em minha boca sorri seus dentes de chumbo" é do caraças.

Joana, obrigado pela tu presença, sei que posso contar ctg. :) deixar que a miopia turve as luzes da cidade revela grande sabedoria. Tens razão, as surpresas acontecem. É só que às vezes me parece que em portugal acontecem menos...

Estou naqueles dias em que me apetece mudar de vida, mas para uma vida que não existe. É verdade que tenho de a construir, e agora até já tenho os instrumentos, mas parece que me faltam os materiais.

Calor Humano disse...

Jóni! Bacano :) tava a escrever a resposta quando passaste aqui. Obrigado. É fixe saber que o pessoal passa por aqui

r | t a disse...

a solidão é isto e à muito tempo que não a conseguia ler tão bem descrita. mas afinal é uma fase, todos esperamos que passe, mas esta aqui até dá vontade de a lembrar só para degustar melhor
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