quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Viver para sempre (no presente)

Não sei. Talvez seja de mim. Talvez seja dos outros.

Sei que falo com as pessoas, conto-lhes coisas - e não estou a falar assim de coisas com muitos detalhes, ou de coisas em que as pessoas não estavam interessadas - estou a falar de conversas inteiras sobre um assunto.

Sei que, passados um mês, seis meses, uma semana - depende da pessoa - há pessoas com quem conversei que não se lembram de termos sequer falado de este ou aquele assunto! Pessoas que me deram a conhecer um livro ou um filme... e não se lembram disso. Pessoas a quem contei isto ou aquilo que era muito grave. Não se lembram... E não estou a falar de pessoas que, passado um pouco dizem eh, não me lembrava, tens razão. Não. Estou a falar de pessoas que não se conseguem lembrar.

É habitual esquecer-me se já contei tal coisa a tal pessoa. Mas a diferença é que, se me lembrarem, lembro-me!

Mas há pessoas que não.

Não tenho explicação para isto. Talvez as drogas. Mas nem todas as pessoas em quem estou a pensar tomam drogas. Talvez o mundo moderno, em que a quantidade de informação que passa por nós é imensa, não lhes permita armazenar tudo. Não sei.

O que sei é que isto traz grandes vantagens no campo da paixão. O maior inimigo da paixão era a habituação. Mas agora, com a nova e moderníssima amnésia, ninguém se lembra de nada, a habituação acabou! Estas pessoas nunca se fartarão das suas paixões. Isso fa-las-há eternas! Só acabarão quando a própria amnésia os fizer esquecer as próprias paixões. Mas até lá, estas pessoas ouvirão repetidamente as mesmas histórias uns dos outros, farão os mesmos passeios românticos repetidas vezes dizendo sempre as mesmas coisas, oferecendo sempre flores iguais e, com sorte, cada noite passada juntos será como a primeira! Com sorte, a estas pessoas, aquela curiosidade miudinha, aquela vergonha que nos revela quando pensamos que nos protege, nunca passará, impedindo para sempre que a relação amadureça!

E ainda dizem que as drogas não são boas para a sociedade.
Um - Acalmam as pessoas e impedem a luta de classes
Dois - Tornam as pessoas mais simples
Três - Não deixam que ninguém se torne demasiado esperto (quem não odeia intelectuais?)
Quatro - Permite diversão mesmo quando as vidas são infelizes
Cinco - Fazem com que a paixão não acabe...
... etc, etc.

O mundo moderno é maravilhoso. Se tivermos sorte, muita sorte, talvez esta falta de memória das experiências vividas alastre a todas as pessoas e chegue mesmo a deixar de existir o tempo. As pessoas não se lembrarão da infância ou do passado e será como se vivêssemos para sempre, e no presente. Como os animaizinhos! São tão queridos os animaizinhos!

Se tivermos muita muita sorte, talvez até a paixão dure para sempre e o amor acabe! Talvez nunca mais tenhamos de sofrer por amor!

2 comentários:

r | t a disse...

identifiquei-me com este...esqueço-me de tantas coisas eu

Calor Humano disse...

:)

Eu também.