terça-feira, 9 de setembro de 2008

Fazer grande Arte é um gesto pacifista

Toda a Arte aproxima e afasta.

Aproxima entre si os que gostam dela e afasta os que não gostam.

Mas a grande Arte é justa.

A grande música junta as pessoas em recintos enormes. Os grandes filmes unem pessoas de todo o mundo num só sentimento. Os grandes quadros enchem o peito de milhões de pessoas com uma visão do mundo. Os grandes livros fazem-nos crescer unidos a todos os que os leram. As grandes obras de arquitetura fazem-nos viajar quilómetros para estarmos unidos a elas e a todos os que já as viram.

Ninguém pode ser inimigo de outra pessoa se ambos gostarem de António Variações.
Ninguém pode dizer que não gosta de alguém com quem consiga ter uma conversa profunda sobre o Van Gogh.
Ninguém pode continuar a discutir com outra pessoa se ambos gostarem do Tarantino e o Pulp Fiction estiver a dar na televisão.
Ninguém se zanga dentro de uma casa do Frank Lloyd Wright, a não ser que esteja lá contrariado.
Ninguém anda a porrada com outro se tiverem os dois na mão o Catcher in the Rye do Salinger.

Mesmo que, na pior das hipóteses, só as elites tenham acesso à cultura, estarão de mãos dadas, e enquanto o povo tiver uma cultura popular, estará também. E é aí que aquela grande Arte popular, tão popular que agora se chama só Pop, vem salvar o mundo.

Ao som de uma canção igual, todos dançam diferentes e a grande Arte aproxima os povos.

Quantas pessoas a menos se teriam apaixonado se não existisse o Chico Buarque?

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