Conto de Fadas de Sintra a Lisboa
Ele era um cavalheiro
Todo ele transpirava elegância
Ela era gata borralheira
Tivera que limpar a sua infância
Ele velejava no verão
E esquiava no inverno
Ela trabalhava ao balcão
De um qualquer estabelecimento moderno
Ele gostava de reluzir em si
O estilo da capital
Ela já não conseguia distinguir as cores
Da bandeira nacional
Ele tinha entre os seus títulos
Uma futura ordem do infante
Ela achava o levantar do dedo mindinho
Algo deselegante
Mas ele um dia curvou-se a seus pés
E ela passou a ocupar o tempo
A descobrir o que era a cultura
E ele confinou-se aos seus aposentos
E descobriu a costura
Ela quis vir a entender o universo
E começou a ler Platão
E ele resolveu perceber o que era a justiça
Em frente à televisão
A ele de nada lhe valeu a aparência
Nem a casa no largo do rato
Porque ela sabia que era Cinderela
E enganou-o com um sapato
Ele que um dia fora príncipe
Agora rendia-se à evidência
Com mulheres que calçam o quarenta
É melhor revelar prudência
Hoje ele ainda beija os seus pés.
Os Pontos Negros, uma banda com um nome genial, numa canção que, quase como mais nenhuma hoje em Portugal, fala dos dias de hoje e da vida e, logo, está mais perto da Verdade. É ainda só ter lido o título e já pensar "mas isto sou eu!".
Três vivas a Queluz.
Uma salva de palmas ao Jónatas, Lipe, Silas e David.
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