quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Dar é preciso

O amor não consegue estar parado.
Quem tiver amor para dar, dá-lo-á.
Se não conseguir dá-lo à pessoa que ama, dá-lo-á a outra pessoa.
É demasiado avassalador para estar guardado.
Quem não ama ninguém, nunca tem amor para dar.
Mas quem ama, induz em erro e faz com que o amem, mesmo quando aquele amor era para outro.
É por isso que é tão fácil ter amantes e tão difícil ser correspondido.
É que quando o amor está nos outros, conseguimos vê-lo.
E o amor é cobiçado.

Não devemos tentar guardar o amor.
É uma batalha duplamente perdida.
Se é impossível guardá-lo, quando o damos, ele é-nos dado de volta. Ficaríamos sempre a perder.
Nada é mais democrático que o amor.
Quem recebe volta sempre para dar.

Um dia apareceram umas pessoas que quiseram regular o mercado.
E não se podia dar a toda a gente, passou a ser preciso fazer reserva.
O amor estava contado e registado e até se cobravam taxas.
Foi preciso redistribuir artificialmente o que já estava naturalmente organizado.
Começou-se a quantificar.
E o valor do amor passou a ser medido ao ciúme.

E cobrou-se em vez de se dar.
E emprestou-se em vez de se receber.
E não mais se trocou.

Nunca mais floresceu selvagem aquilo que sempre foi nosso só por existir.
Passou a ser cultivado, destilado e empacotado.
E foi preciso inventar embalagens novas para o que antes andava à solta,
Novos nomes para os produtos complexos.
Novas maneiras de fazer o que sempre se fez.
Teve de se desaprender de como dar para poder comprar.

E é por isso que hoje nem todos têm.
Porque já não se dá, só se guarda.
E há cada vez menos.

2 comentários:

tomas disse...

acho que este Post dava uma canção!
acho que há coisas que devem ser cantadas!

só é pena, mesmo no final, quando se inclina demasiado para a visão pessimista

quanto ao resto...
acredito

Calor Humano disse...

Obrigado tomás, tomo isso como um grande elogio!

Sobre a visão pessimista final ... talvez esta possa ser só a primeira parte da canção. Acredito.