domingo, 28 de setembro de 2008

Histórias do Verão II

Este Verão estava na praia com uma amiga minha das antigas - como quase todas (uma amiga só pode ser antiga) - podemos chamar-lhe Catarina. Estávamos os dois mais uma amiga dela.

Era o fim daquela tarde e ainda estava muito calor. Já tínhamos dormido e acordado ao Sol, adormecido outra vez e voltado a acordar ao Sol. Rochas enormes davam-nos a sensação de segurança. Há muito tempo que estávamos em silêncio. Ouvíamos a cadência do mar. Talvez inspirado por só ouvir coisas bonitas durante umas horas, tive um tal sentimento de liberdade, que comecei a cantar o Hallelujah, do Leonard Cohen.

Estava a cantá-la numa versão mais próxima da do Jeff Buckley que, adolescentes nos anos 90, a Catarina e eu, inevitavelmente conhecemos primeiro que a original. Estava a cantar baixinho (que é o nível máximo do respeito que conheço) acompanhado pelas ondas.

De repente a Catarina disse o cantes isso, é uma música muito triste.
Triste?
Sim, é muito triste.

Desde esse dia que isto não me sai da cabeça. Não ponho em causa o que a faz sentir triste. Talvez eu cante mal. O que quer que seja, será um motivo válido só por ser dela. Mas, se o Hallelujah é triste, então o que é alegre? A resposta, como nos bons filmes, já tocava ao fundo mas só aí dei por ela. Estávamos em Sagres, onde nessa noite como na anterior, decorria o Super Bock Sagres Surf Fest. Ouvia-se Reagge por todo o lado naquela praia repleta de pessoas com rastas.

Eu gosto de reagge. E é verdade que o Reagge nos permite balançar o corpo de maneiras que o Hallelujah não permite. Mas nenhum reagge alguma vez me trouxe a felicidade que me trouxe - hoje de manhã outra vez - o Hallelujah, a tocar pela janela aberta que deixava entrar o Sol, ou como naquele fim de tarde, a olhar o mar.

São gostos, dirão. Claro que são gostos. Mas porque é que as pessoas estão a precisar de puxar a felicidade tão ao máximo para serem capazes de a sentir? É uma pena que as pessoas não tenham mais trabalho de aprender a ouvir. É que é isso que faz com que depois, tudo o que não seja imensamente festivo, soe triste. Andarão as pessoas mais tristes que nunca e a precisar de muita alegria injetada, ou, mais que isso, estão tristes porque já não sabem ver a alegria nas coisas a não ser que seja sublinhada a vermelho, recortada do resto, ampliada vezes mil até já não ser nada do que era? A não ser que não haja qualquer dúvida que uma coisa é para ser feliz?

Com a cultura de massas, a televisão, a internet, a rádio, tudo a tocar ao mesmo tempo, as pessoas sempre a falarem, tanto nas lojas como na escola, como no trabalho, uma palavra não tem mais o valor divino que lhe é natural. Tudo é fugaz. Deixamos de ter atenção às coisas porque as coisas vêm direcionadas por nós. Tudo vem com instruções, soluções e previamente interpretado, estilo batatas pré-fritas congeladas. Já não aprendemos a interpretar. como não aprendemos a cozinhar. Já não sabemos por a atenção nas coisas para ver onde está a essência. Se não soa alegre não é alegre. Não há tempo para prestar mais atenção. Somos a pior geração de detetives da história. Não admira que ande toda a gente à nora à procura das causas e dos sentidos de tudo. Não é o nosso mundo no século XX que está um caos, as nossas cabeças é que estão.


E agora a canção que tem na letra a resposta a todo o problema deste meu post. E haverá alguma felicidade mais absoluta que a de encontrar a Fé numa mulher?
Podemos dizer

Hallelujah

(Nos anos 80. Nos anos 90)

Now I've heard there was a secret chord
That David played, and it pleased the Lord
But you don't really care for music, do you?
It goes like this
The fourth, the fifth
The minor fall, the major lift
The baffled king composing Hallelujah
Hallelujah
Hallelujah
Hallelujah
Hallelujah

Your faith was strong but you needed proof
You saw her bathing on the roof
Her beauty and the moonlight overthrew you
She tied you
To a kitchen chair
She broke your throne, and she cut your hair
And from your lips she drew the Hallelujah

Baby I have been here before
I know this room, I've walked this floor
I used to live alone before I knew you.
I've seen your flag on the marble arch
Love is not a victory march
It's a cold and it's a broken Hallelujah

Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah

There was a time you let me know
What's really going on below
But now you never show it to me, do you?
And remember when I moved in you
The holy dove was moving too
And every breath we drew was Hallelujah

Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah

You say I took the name in vain
I don't even know the name
But if I did, well really, what's it to you?
There's a blaze of light
In every word
It doesn't matter which you heard
The holy or the broken Hallelujah

Hallelujah, Hallelujah
Hallelujah, Hallelujah

I did my best, it wasn't much
I couldn't feel, so I tried to touch
I've told the truth, I didn't come to fool you
And even though
It all went wrong
I'll stand before the Lord of Song
With nothing on my tongue but Hallelujah

Hallelujah, Hallelujah



Este post é dedicado à Catarina, que é das pessoas que conheço com melhor gosto musical. Esta versão é só para ela e talvez eu devesse ter tentado cantá-la assim. Eu sei que ela gosta. À anos 00. O erro foi meu, eu é que estou desatualizado, Catarina, desculpa.

2 comentários:

tomas disse...

jeff buckley
és o máior!

Calor Humano disse...

São mesmo os maiores estes senhores.